quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Matéria do Jornal da Paraíba do jornalista Astier Basílio


Arte sob o ângulo de Svendsen
ASTIER BASÍLIO
Quando se fala em paisagem, na pintura, a primeira imagem que se tem é do campo, pintado em cores vivas, uma casinha ao fundo, árvores com folhas ao chão e o rio cortando ao longe. Mas, não é nada disso que o artista Fred Svendsen promete na concepção de sua nova obra, “Latitude”, que começa a ser pintada amanhã às 8 horas, no ateliê montado em um casarão na Praça Antenor Navarro, em João Pessoa. O projeto tem apoio do Fundo Estadual de Cultura, FIC Augusto dos Anjos. É um painel com 6 metros de comprimento e 2 metros de largura. “Maior do que a Guernica”, informa Fred Svendsen, para logo em seguida dizer que o tamanho não seria documento. “Se isso quisesse dizer alguma coisa a ‘Monalisa’ (de Da Vinci) não teria valor”. A previsão é que o trabalho seja concluído em três meses. O quadro será doado ao acervo do Estado da Paraíba. “A minha contrapartida ao FIC é a interação com os estudantes da rede pública. Eles não vão pintar comigo, mas acompanharão todo o meu processo criativo. Será uma aula prática”, conta. Segundo o artista, a Secretaria de Educação agendará as visitas. A rotina de trabalho será diária. Das 8 horas ao meio-dia e das 14h às 17 horas. Haverá uma interrupção no período do carnaval. “Eu tenho de estar com 70% do projeto pronto até março. Nesse período será confeccionado um catálogo com todo o processo de pintura do painel, além de fotos com os visitantes que forem ao ateliê”. O artista já elaborou vários estudos, a partir dos quais comporá seu painel fundindo a figuração com o paisagismo. Quem quiser conferir pode acessar o blog de Fred Svendsen: www.latitude34.blogspot.com. O estranho universo que desse encontro resulta é uma latitude perturbada, esquisita. Svendsen transfigura o olhar sobre o cotidiano, monstrualizando-o, como quem apontasse nesta metáfora que a realidade crua do dia-a-dia é tão espantosa quanto os cartões-postais de surrealismo que ele pinta e engendra. “Sempre pensei em desenvolver um painel, desta magnitude que me desse a oportunidade de fazer uma ligação, em uma mesma tela, de todas as imagens que eu gostaria de colocar ali naquele projeto. Esta foi a idéia fundamental quando pensei em Latitude” Algumas coincidências cercam o projeto Latitude. Fred revela que o título, inicialmente, seria Latitude 34, que é a latitude da Paraíba, mas desistiu para evitar a obviedade. “Só que quando eu fui ver, o número do meu projeto de inscrição no FIC era o 34!(risos)”. Svendsen conta que este projeto é desenvolvido com muito carinho e precisão pois, faz parte de uma transição muito importante na sua vida profissional. É a passagem das minhas imagens para paisagens, não que eu vá deixar de pensar nas minhas figuras que desenvolvo há mais de 30 anos, mas as paisagens, em muitos momentos me servirão de cenário para compor o mundo das minhas figuras”, disserta. Sobre este novo desafio, Svendsen declara que estas paisagens adaptam-se muito bem às grandes telas, pela liberdade, e pela falta de compromisso com o qual eu pretendo compor, não existirá uma métrica para este trabalho, estará completamente livre das leis que regem uma pintura ou um quadro. “Quero trabalhar para que este trabalho seja minha ‘Monalisa’, para que no futuro próximo ainda continue um trabalho atual e marcante”. Toda a fantasmagoria expressionista de Svendsen, com seus personagens sem rosto, suas ruas sem endereço e lugar ganhará corpo em uma obra de fôlego que tem tudo para ser um marco na sua produção artística. Vale a pena acompanhá-lo nesta aventura. Artista subverte cores e paisagens “Latitude é a distância entre a Paraíba e o sonho” . Esta definição um tanto poética que Svendsen apresenta no blog, dá a entender da intenção de seu trabalho. Fred Svendsen subverte os preceitos de cor local e de paisagem regionalista recriando, na perspectiva onírica, as imagens de um não-lugar mais aproximado do inconsciente do que qualquer geografia. É isso o que se pode ver da releitura que ele faz de uma paisagem de Santa Luzia. O estudo que mostra uma paisagem devastada e ao mesmo tempo colorida. “As paisagens do Sertão são fantásticas, extraordinárias”, completa o artista que põe um toque todo especial quando transpôs para a tela as imagens ensolaradas do Sertão paraibano, que sempre rendeu imagens muito mais associadas com o chapado preto e branco das xilogravuras. Svendsen foge da realidade para ficar perto dela. “Eu não tenho muito interesse em fazer uma paisagem comum, se este fosse o meu objetivo seria melhor eu pegar uma máquina de fotografia, pois eu teria um resultado bem melhor”, avalia o artista plástico. (AB)

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