quarta-feira, maio 28, 2008

ENTREVISTA COM FLÁVIO TAVARES

Flávio Tavares critica a falta de incentivo às artes e fala sobre seu painel do Estação Ciência

O artista plástico Flávio Tavares, em entrevista à Série Depoimentos promovida pelo Serviço Social do Comércio, criticou a falta de incentivo às artes no Brasil e a ausência de leis que protejam o trabalho do artista como patrimônio.A Série Depoimentos integra a programação da Bienal de Pequenos, evento que se encontra aberto na Área de Lazer do Sesc Centro João Pessoa até o próximo dia 30, no horário das 8h às 22 horas, com entrada franqueada ao público em geral.
O vandalismo contra obras públicas é um exemplo preocupante que tem crescido, sobretudo nos grandes centros urbanos. Em João Pessoa, podemos citar exemplo de casas históricas, murais e painéis que têm sido degradados ao longo dos anos por atos de vandalismo. "Com certeza existe a falta de leis que protejam as obras e murais públicos contra esses atos.", criticou Flávio, que já teve uma de suas obras destruídas. "Certa vez eu fiz um mural em uma igreja, totalmente em cerâmica, o que me deu muito trabalho. Um dia, indo pra Recife, eu passei pela igreja e o mural estava completamente branco! O dono (a igreja situava-se em uma granja) tinha virado crente, e tinha mandado pintar mural. Em obra particular, você pode quebrar, queimar, jogar fora, não existe uma lei de preservação. E nos prédios públicos realmente existe uma lei, mas é uma lei furada".
Flávio apontou ainda a falta de iniciativa em políticas que invistam na produção artística e que instiguem a criação de novos artistas. "Em João Pessoa, por exemplo, não existe sequer um Museu totalmente destinado às artes, e os projetos de lei que existem acabam sempre parados. Seria muito viável uma parceria entre os governos e a UFPB, por exemplo, na construção de um Museu", afirmou Flávio. "O Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, é uma grande atração, e vive cheio, sobretudo de estudantes, que estão lá a fim de aprender", completou.
O Museu Oscar Niemeyer é uma referência em toda a América Latina, onde a própria arquitetura, projetada por Niemeyer, já é uma grande atração, e onde são realizadas exposições simultâneas em mais de 17 mil metros quadrados de área. "Os governos deixam sempre pra depois essa história, não sei se vêm os artistas ainda de uma forma estranha", lamentou.
Podemos notar, então, a falta de "ânimo" dos governos em relação à produção artística, sobretudo no nosso estado, onde os incentivos de produção e de descoberta de novos artistas até acontecem, mas andam a passos muitos curtos e ainda de forma muito tímida, tendo um longo caminho ainda pela frente.

O projeto do Estação Ciência

Recentemente, Flávio foi convidado pela prefeitura de João Pessoa a realizar o que virá a ser o seu maior projeto, que ficará marcado para sempre na história da cidade. Um mural de nove metros de comprimento por três de altura está em fase de acabamento, e será exibido junto à inauguração do Estação Ciência, Cultura e Arte, que recentemente foi cotado a receber o nome "Assis Chateaubriand".
"Na verdade não é bem um mural, eu gosto de vê-lo como um painel", argumentou Flávio. "Ele é formado por cinco módulos de madeira, onde você pode olhar cada um separadamente, mas todos têm uma amarra", explica. O mural, que será uma pintura, trará um pouco da história de João Pessoa, partindo desde a chegada dos portugueses e focando principalmente no choque cultural com os índios nativos. Porém, Flávio decidiu inovar ao retratar fatos considerados tão importantes historicamente. "A primeira idéia era quebrar com o princípio histórico. Eu não queria chegar dentro de um livro de história e pintar o quadro", afirmou.
Para dar vida à sua retratação histórica e ao mesmo tempo irônica, Flávio resolveu utilizar-se da influência adquirida na literatura, e misturar elementos díspares em uma mesma cena. "A antropofagia é abordada por Mário de Andrade de forma exemplar, onde você tritura tudo pra sair alguma coisa. Assim, a primeira idéia que eu tive foi de um navio chegando, mas não no mar, e sim a uma grande mesa cheia de tudo: banquete, ciganos, bichos, frutas, que é essa lembrança que eu tenho da literatura". Através disso, Flávio realiza toda sua crítica cultural e a joga através das tintas em seu painel, como na maioria de suas obras: "Quando alguém fala algo muito serio, eu levo para o lado do humor. Não sei se isso é uma resistência, mas eu preciso fazer uma critica, é natural", comentou Flávio. "O imaginário humano já projetou muitos discos voadores. Se um disco voador chegasse hoje na terra, ninguém iria se assustar. Mas naquela época, para nativos verem aquele navio chegando, homens todos 'enlatados', dando tiros pra cima, seria um absurdo. Quem era aquele povo de pele branca, vestidos, de barba?", explica.
O quadro, que retratará essa riquíssima história da nossa cidade, ofereceu a Flávio uma de suas melhores experiências profissionais durante todos seus anos de carreira no mundo artístico. "Até hoje eu ouço a voz do mestre dizendo como fazer. Isso prova que eu ainda não consegui ultrapassar os ensinamentos, ainda estou no aprendizado. Esse painel chegou na hora certa", afirmou. "Ele poderia até ser simples, mas um mural desse tamanho dá expansão pra desenvolver múltiplas fantasias, interligadas a um só sistema. Não tem nada leviano, supérfluo, tem toda uma verdade dentro do trabalho ornamental, e eu tenho essa responsabilidade de amarrar uma história enorme", concluiu Flávio, mostrando que pôde ter liberdade pra trabalhar vários aspectos de uma realidade que é tão importante e que ficará marcado para sempre não só como mais uma de suas obras, mas como um marco histórico, turístico e cultural da cidade.
Quando perguntado sobre os projetos futuros, ele brinca: "Depois desse mural eu me aposento!", disse, entre gargalhadas.

ENTREVISTA COM UNHANDEIJARA LISBOA

Unhandeijara Lisboa reclama sobre a vulgarização das artes e critica ensino da UFPB

O artista plástico pessoense Unhandeijara Lisboa, também conhecido como Nandi, criticou em entrevista à Série Depoimentos a Universidade Federal da Paraíba em relação à falta de incentivo e a pouca produção artística dentro da academia, afirmando que há alguns anos atrás a efervescência cultural se dava de forma mais perceptível. "Nos anos 70 a coisa funcionava melhor, a ebulição cultural era maior. Hoje em dia quase não se vê uma peça produzida pela UFPB, ou uma exposição de arte, por exemplo. Se você perguntar aos dirigentes universitários o que é o Clube da Gravura eles não vão saber responder", comentou Nandi. "A educação artística não é mais tratada com prioridade, hoje em dia os pais querem ensinar aos filhos português, matemática, física... Talvez isso tenha contribuído com esse 'abandono'". A Série Depoimentos consta na programação da I Bienal de Pequenos Formatos, que se encontra aberta na área de lazer do SESC Centro João Pessoa até o dia 31 deste mês. Nandi também ministra no evento uma oficina de Xilogravura.
Presidente do Clube da Gravura da Paraíba (que possui o título de Utilidade Pública Estadual) desde sua fundação, em 1984, Unhandeijara aproveitou para criticar a falta de apoio às artes plásticas pelas autoridades e responsáveis. "No Brasil, a política é totalmente partidária, e a arte deve ser desvinculada de processos políticos", comentou. "Os 'órgãos oficiais' de arte, que deveriam ter essa preocupação, são amadores, e existe a falta de apoio, de um espaço, de exposições... E tanto o poder público, como obrigação, e o poder privado que está inserido no meio deveriam apoiar mais", concluiu.
Ainda em relação à falta de incentivo aos artistas, Unhandeijara criticou o fato de que a maioria das exposições realizadas atualmente não produzem um catálogo de arte, prejudicando ainda mais o reconhecimento e a divulgação do trabalho. "No Casarão 34, por exemplo, de 100 exposições realizadas eles produzem no máximo 10 catálogos, e isso é péssimo, pois o artista ganha registro através deles. Muitas vezes as instituições preferem oferecer uma boca-livre e fingir que está tudo maravilhoso", afirmou.
Sobre as artes na Paraíba, ele admite que dentro do próprio estado não existe reconhecimento cultural aos artistas que deveriam ser ressaltados, e que muitas vezes tem um reconhecimento maior em outros estados ou até mesmo fora do país. "Eu considero Flávio Tavares um dos artistas mais completos, não só no Brasil, mas a nível nacional. Se ele fosse viver na Alemanha, França, ou em outro país, talvez tivesse uma notoriedade maior do que tem aqui", comentou. "Os artistas da terra não são valorizados. O projeto do Estação Ciência é uma coisa maravilhosa, mas o povo está pensando apenas na estrutura, no prédio. Quem vai tomar conta realmente, a Prefeitura? A UFPB? A Secretaria de Cultura do Estado?"
Além disso, um outro problema bastante ressaltado por ele é a vulgarização artística que tem ocorrido atualmente, fazendo uma crítica à falta de estudos sobre o mundo das artes e sobre como as pessoas lidam com a produção de quadros e gravuras, por exemplo. "Hoje em dia tem muita 'madame' fazendo algo que elas acreditam ser arte, sem estudo, sem noção do que realmente a arte representa", disse. "Arte não é enfeite de parede, arte é aquilo que nos faz pensar na obra e em muito mais do que isso".


Workshop de Xilogravura a cores na Bienal

Unhandeijara Lisboa estará realizando até sexta-feira, 30, um workshop de xilogravura a cores (técnica de gravura em relevo em que se utiliza madeira como base, e que possibilita a reprodução da imagem em folhas de papel, assemelhando-se a um carimbo), que integra a programação da I Bienal de Pequenos Formatos, realizada durante o mês de maio pelo Serviço Social do Comércio, através da unidade do SESC Centro João Pessoa.
O workshop, que pretende levar aos participantes noção e técnicas de realização de xilogravuras em cores, teve início nesta terça-feira, 27, e se encerra na sexta, 30. As aulas serão ministradas das 14h às 16h, na área de lazer da unidade do SESC Centro em João Pessoa, localizado à Rua Desembargador Souto Maior, 281, Centro, e as inscrições já se encontram encerradas.
A I Bienal de Pequenos Formatos está sendo realizada na unidade Centro e vai até o dia 30, com exposições de gravuras, desenhos, fotografias e esculturas, além da realização de oficinas, workshops, palestras e entrevistas, ministradas pelos mais diversos nomes das artes na Paraíba.Unhandeijara aproveitou a oportunidade para exaltar o projeto: "O que esses meninos estão fazendo aqui – disse, apontando para seus alunos no workshop – é um milagre. Um evento desse porte poderia e deveria ter reconhecimento até mesmo nacional".

terça-feira, janeiro 29, 2008

veja este link

sexta-feira, novembro 30, 2007

PARA SABER MAIS SOBRE O PROJETO LATITUDE VEJA OS LINKS DE MARÇO DE 2006 À DIANTE

domingo, setembro 16, 2007

MARINHO, WILSON, PERCI


MIRABEAU, TITO, DENIS E SOTER


A MOSTRA DO MARIAH SEXTA FEIRA


PERCI, CREMILSON, ONALDO, FRED, DENIS